1. ANTECEDENTES E CONTEXTUALIZAÇÃO
·
Portugal
e Inglaterra (Tratado de Methuen);
- Após muitos anos sob o domínio da Espanha, no
que ficou conhecido como União Ibérica, Portugal se uni a Inglaterra, assinando
um conjunto de acordos, que apesar das aparências, acaba por submeter o pais a
seu novo aliado.
·
Administração
Pombalina (Despotismo Esclarecido);
- Busca por fortalecimento do Estado Português,
situação que vai ter grande influência sobre a história de sua colônia na
América.
·
A
Rainha no Poder (D. Maria I);
- Exclusivismo comercial metropolitano.
2. REVOLTAS
NA COLÔNIA:
Obs: É interessante relembrar que muitos
historiadores dividem as revoltas brasileiras em dois grupos: Nativistas e
Separatistas
2.1. Exemplo de revoltas nativistas:
A Revolta dos Beckman ocorreu no ano de
1684 sob liderança dos irmãos Manuel e Tomas Beckman. O evento
que se passou no Maranhão reivindicava melhorias na administração
colonial, o que foi visto com maus olhos pelos portugueses que reprimiram os
revoltosos violentamente. Foi a única revolta do século XVII.
A Guerra dos Emboabas foi um conflito
que ocorreu entre 1708 e 1709. O confronto em Minas Gerais aconteceu
porque os bandeirantes paulistas queriam ter exclusividade na exploração do
ouro recém descoberto no Brasil, mas levas e mais levas de portugueses chegavam
à colônia para investir na exploração. A tensão culminou em conflito entre as
partes.
A Guerra dos Mascates aconteceu logo em
seguida, entre 1710 e 1711. O confronto em Pernambuco envolveu senhores
de engenho de Olinda e comerciantes portugueses de Recife. A elevação de Recife
à categoria de vila desagradou a aristocracia rural de Olinda, gerando um
conflito. O embate chegou ao fim com a intervenção de Portugal e equiparação
entre Recife e Olinda.
A Revolta de Filipe dos Santos aconteceu
em 1720. O líder Filipe dos Santos Freire representou a insatisfação dos
donos de minas de ouro em Vila Rica com a cobrança do quinto e a
instalação das Casas de Fundição. A Coroa Portuguesa condenou Filipe dos Santos
à morte e encerrou o movimento violentamente.
2.2.
Exemplo de revoltas separatistas:
A opressão, exploração
e centralismo da metrópole portuguesa de D. Maria I e de seu filho D. João
contribuiu para a ocorrência de vários movimentos de rebeldia no Brasil, como:
Conjuração Mineira (1789), Conjuração Baiana (1798) e a Insurreição
Pernambucana (1817).
2.2.1. A CONJURAÇÃO
MINEIRA
A Inconfidência Mineira foi a revolta, de caráter
republicano e separatista, organizada pela elite socioeconômica da capitania de
Minas Gerais contra o domínio colonial português. Também conhecida como Conjuração Mineira,
demonstrou a insatisfação local com a política fiscal praticada por Portugal.
ANTECEDENTES HISTÓRICOS
A Inconfidência Mineira não foi o
único movimento de revolta e
insatisfação dos colonos contra a Coroa portuguesa, mas, com certeza,
foi um dos mais importantes — apesar de não ter sequer sido iniciado. Foi uma
de muitas demonstrações de insatisfação da capitania das Minas Gerais com
Portugal.
No século XVIII, Minas Gerais era a capitania mais próspera do Brasil,
fruto da atividade mineradora,
que trouxe riqueza e desenvolvimento para aquela região. Na década de 1750,
Vila Rica, por exemplo, era uma das cidades mais populosas da América Latina,
com cerca de 80 mil habitantes. Isso fazia com que a atenção de Portugal em
relação a Minas Gerais fosse relativamente maior.
A relação entre colonos
e a Coroa nunca foi boa, mas, ao longo do
século XVIII,
ela foi
piorando à medida que
os impostos aumentavam. Ao longo desse século, diversas revoltas
aconteceram naquela capitania, e, a partir da década de 1750, a situação
agravou-se porque a política fiscal de Portugal tornou-se mais rigorosa.
Na década de 1750,
Portugal era administrada pelo Marquês de
Pombal, e sua administração, conhecida como pombalina,
impôs um aumento de impostos sobre a colônia, visando a reconstrução de Lisboa,
que tinha sido destruída pelo terremoto de 1755.
A continuidade de pesados impostos levou os colonos à conspiração.
PARTICIPANTES
DA INCONFIDÊNCIA MINEIRA
A Inconfidência Mineira
foi uma realização da elite socioeconômica da capitania
de
Minas Gerais. Tiradentes, por exemplo, foi uma exceção, uma
vez que ele não pertencia à elite da capitania. Ele era militar e comandava a
tropa que monitorava o Caminho Novo, estrada que ligava Rio de Janeiro a Minas
Gerais.
Apesar de ser um
movimento de elite, os envolvidos com a inconfidência eram dos mais variados
ofícios, e entre os conspiradores havia membros da Igreja Católica, magnatas da
região, comerciantes, fazendeiros, médicos etc.
CAUSAS
DA INCONFIDÊNCIA MINEIRA
Como citado, a razão
direta que levou à conspiração foi a insatisfação com a política
fiscal praticada por Portugal. Essa contrariedade sempre
existiu, mas alguns acontecimentos específicos da década de 1780 fortaleceram a
ideia de rebelião e levaram a elite local a organizá-la.
A conspiração que fez
parte da Conjuração Mineira foi iniciada em algum momento da década de 1780
(não se sabe a data com precisão). Os envolvidos estavam insatisfeitos com os
excessivos impostos e com o rigor de Portugal nessa questão, mas o que os
empurrou para a rebelião foi a constatação de que a capitania
poderia ser autossuficiente economicamente. Assim, planejaram
transformá-la numa república independente.
A insatisfação foi
transformada em ação contra Portugal, por conta das gestões de Luís da Cunha Meneses e do Visconde de Barbacena, ambos governadores da capitania. O
primeiro foi governador de Minas Gerais entre 1783 e 1788, e seu governo ficou
marcado pela corrupção e pelo abuso de poder. Ainda conseguiu irritar as elites locais
ao prejudicar os interesses dessas em benefício de seus amigos mais próximos.
Já Luís Antônio Faro,
ou simplesmente Visconde de Barbacena, assumiu o cargo em 1788, com a instrução
de alcançar a meta de 100 arrobas de ouro estipulada
pela Coroa. Se necessário fosse, o visconde deveria realizar uma derrama, isto é, uma cobrança obrigatória que visava
cumprir a meta citada.
Foi a possibilidade de
realização de uma derrama que levou os inconfidentes (ou conjuradores) a
pegarem seu plano e colocá-lo em execução. A revolta que se iniciaria em Vila
Rica estava marcada para acontecer na data da derrama. A indignação foi motivada pelo fato de a derrama
sobrecarregar uma capitania já cheia de impostos a pagar e que enfrentava uma crise pela redução do ouro extraído.
QUAIS
ERAM OS PLANOS DOS INCONFIDENTES?
Como mencionado, os
inconfidentes pensavam em iniciar sua rebelião no dia
que fosse estipulada a derrama. A rebelião seria iniciada em Vila Rica e depois
espalhada por toda a capitania de Minas Gerais. Para vencer pretendiam impor
uma guerra de desgaste, que sangraria as
finanças de Portugal, forçando-a a negociar com os colonos.
Se tivessem sucesso, pretendiam:
·
Proclamar
uma república inspirada nos moldes existentes nos Estados Unidos;
·
Realizar
eleições anuais;
·
Incentivar
a diversificação econômica da capitania e instalar manufaturas;
·
Formar
uma milícia nacional;
·
Perdoar
as dívidas dos inconfidentes.
Sobre a questão do trabalho escravo não existia consenso. Alguns defendiam a abolição desse
tipo de atividade, enquanto outros, sua permanência. De toda forma, essa pauta
estava longe de ser prioridade dos inconfidentes. Estes também procuraram o apoio internacional, mas os franceses recusaram-se a
dá-lo, e os americanos até sinalizaram algum, mas nunca tomaram medidas
efetivas nesse sentido.
Os ideais que
inspiravam os inconfidentes de Minas Gerais baseavam-se nas ideias políticas do
Iluminismo,
um movimento filosófico e artístico que inspirou transformações também na
política e deu nascimento a ideias como a igualdade
entre os homens. A elite de Minas Gerais teve acesso a esses
ideais, principalmente na Universidade de Coimbra, em Portugal, local em que
muitos dessa elite estudaram.
Além disso, o fato de Vila Rica ser uma grande cidade tornava-a um importante centro cultural em Minas Gerais, o que fazia da cidade um
local que facilitava a circulação dos ideais iluministas. Uma das manifestações
dos ideais iluministas em Vila Rica deu-se por meio do Arcadismo, uma escola literária da época. Um dos líderes
da Inconfidência Mineira, Cláudio Manuel da Costa, foi um dos grandes nomes do arcadismo no
Brasil.
RESULTADO
DA INCONFIDÊNCIA MINEIRA
A Inconfidência Mineira ficou
marcada na história brasileira como uma das maiores demonstrações de
insatisfação dos colonos contra a metrópole portuguesa. Essa conspiração, no
entanto, nunca chegou a ser iniciada,
pois foi descoberta antes de ser deflagrada. As autoridades coloniais em Minas
Gerais receberam denúncias acerca
de uma conspiração em curso.
No dia 18 de maio de 1789, alguns
dos líderes da Inconfidência foram avisados de que sua conspiração tinha sido
denunciada e que todos corriam perigo. O governador da capitania, Visconde de
Barbacena, recebeu seis denúncias, e a mais consistente foi realizada por Joaquim Silvério dos Reis.
Joaquim Silvério dos Reis era um
fazendeiro e dono de minas de ouro. Naquela altura (1789) estava
consideravelmente endividado com as autoridades portuguesas, e, para livrar-se de suas dívidas, resolveu
denunciar o movimento. Contou tudo, com grande detalhamento, dos planos dos
inconfidentes.
Em posse de valiosas informações,
o visconde de Barbacena ordenou a suspensão
da derrama e deu início às prisões
dos nomes denunciados. Em meio a prisões e interrogatórios, o julgamento
estendeu-se por três anos. A leitura da sentença aconteceu no dia 18 de abril
de 1792 e durou 18 horas.
As sentenças foram variadas e
algumas das penas foram: degredo para a
África, prisão perpétua e morte por enforcamento. Tiradentes e muitos
outros foram condenados à morte por enforcamento, mas, antes de execução da
pena, uma carta enviada por d. Maria, rainha de Portugal, concedeu o perdão
real a todos, menos a Tiradentes.
Entre todos os membros, Tiradentes era o de posição social mais humilde — ele não
era membro da elite econômica de Minas Gerais. Além disso, sua função na
conspiração era de extrema importância: ele era o propagandista do movimento. Por isso foi tirado como
exemplo, e sua pena foi a única mantida.
Tiradentes foi enforcado no dia 21 de abril de 1792,
foi também esquartejado e partes
do seu corpo foram colocadas na estrada que ligava o Rio de Janeiro a Minas
Gerais (Caminho Novo). Sua cabeça foi
colocada em exposição na praça central de Vila Rica, atual Ouro Preto.
Hoje no local existe um monumento em homenagem a esse personagem histórico.
A Inconfidência Mineira,
portanto, fracassou. A denúncia
levou ao desmantelamento da conspiração antes que ela fosse iniciada, e os
envolvidos foram punidos, sendo Tiradentes o que recebeu a pena mais rigorosa
por parte das autoridades coloniais. Essa tentativa de levante, no entanto, foi
acompanhada de outros movimentos de insatisfação, sendo a Conjuração
Baiana um desses de destaque.
2.2.2. CONJURAÇÃO BAIANA
Conjuração Baiana,
também denominada como Revolta dos
Alfaiates (uma vez que alguns participantes da trama exerciam este
ofício) e recentemente também chamada de Revolta dos Búzios, foi um movimento de caráter emancipacionista,
ocorrido no final do século XVIII (1798-1799), na então Capitania da Bahia, na
colônia brasileira.
ANTECEDENTES HISTÓRICOS
Sendo então a Capitania da Bahia
governada por D. Fernando José de Portugal e Castro (1788-1801), a capital,
Salvador, fervilhava com queixas contra o governo, cuja política elevava os
preços das mercadorias mais essenciais, causando a falta de alimentos, chegando
o povo a arrombar os açougues, ante a ausência de carne.
O clima de insubordinação
contaminou os quartéis, e as ideias emancipacionistas, que já haviam animado
Minas Gerais, foram amplamente divulgadas, encontrando eco sobretudo nas
classes mais humildes.
PARTICIPANTES
DA INCONFIDÊNCIA BAIANA
Mais da metade da sociedade
baiana era composta de afrodescendentes, escravos, escravos libertos, mestiços
ou brancos pobres que exerciam atividades profissionais sem relevância social.
Entre essas atividades
profissionais estavam os alfaiates, soldados de baixas patentes, artesãos,
carregadores, pescadores, sapateiros, pedreiros e vendedores ambulantes. E
foi justamente essa classe social que aderiu a Conjuração Baiana. Por isso, a
conspiração também ficou conhecida como Conjuração dos Alfaiates.
Entre os principais
líderes do movimento destacaram-se os soldados Luís Gonzaga das Virgens e Lucas
Dantas e os alfaiates Manuel Faustino dos Santos Lira e João de Deus
Nascimento. Os quatro conjurados eram negros e pardos, e foram condenados à
forca. Também esteve envolvido na conjuração o jornalista e cirurgião Cipriano
Barata, que recebeu pena branda.
CAUSAS
DA INCONFIDÊNCIA BAIANA
A Capitania da Bahia, durante a última década do Séc. XVIII, devido a
diversas guerras e conflitos, vinha tendo sua economia estimulada em um novo
ciclo de alta da economia colonial no mundo, tendo a exportação como principal
característica.
A cana-de-açúcar também tem um papel importante. No Nordeste, o produto
havia entrado em decadência no final do século XVII, mas houve uma recuperação
considerável no final do século XVIII. Uma das razões para essa recuperação foi
a eclosão da Revolução Haitiana, que comprometeu significativamente a produção
do açúcar caribenho e acabou reabrindo o mercado europeu para o açúcar baiano.
Outro produto cultivado na Bahia
era o tabaco, que servia como moeda de troca no tráfico de escravos realizado
pelo mundo. Essa prática era ilegal e por isso irritava a corte portuguesa. As
autoridades não se sentiam confortáveis com essa prática. Além disso, o tabaco
também era trocado por produtos manufaturados de outros países europeus, o que
violava o pacto colonial, que só permitia a compra de produtos de Portugal.
Com a intenção de controlar mais o comércio da Bahia, a coroa portuguesa
criou algumas leis. Uma delas obrigava o cultivo de determinados alimentos para
evitar o desabastecimento e a fome. Como o lucro era a principal preocupação,
os grandes latifundiários da época resistiam, focavam apenas no cultivo da cana
e descumpriam a lei.
Isso provocou o aumento considerável dos preços da mandioca,
por exemplo, gerando crises de abastecimento para uma população que tinha na
farinha da mandioca um de seus principais componentes nutricionais. Com o
aumento da população escrava trazida para a indústria do açúcar, a fome e o
contato com as ideias radicais da revolução francesa, as tensões sociais na Bahia
começaram a transbordar.
O monopólio dos comerciantes portugueses, o alto lucro com o açúcar e a
elevação exorbitante da renda dos senhores de engenho, ajudaram a deteriorar a
situação. Incidentes espalhados como o saque de armazéns e até o incêndio do
pelourinho, espalhavam-se pela região. Notícias de revoltas e movimentos vindos
de lugares como Haiti, Estados Unidos, França, outras colônias e até Minas
Gerais, formaram o caldo da revolta
QUAIS
ERAM OS PLANOS DOS INCONFIDENTES?
A todos influenciava o exemplo da
independência das Treze Colônias Inglesas, e ideias iluministas,
republicanas
e emancipacionistas eram difundidas também por uma parte da elite culta,
reunida em associações como a Loja Maçônica
Cavaleiros da Luz.
Os 6 pontos da conjuração baiana
eram:
·
Abolição
da Escravatura
·
Proclamação
da República
·
Diminuição
dos Impostos
·
Abertura
dos Portos
·
Fim do
Preconceito
·
Aumento
Salarial
RESULTADO
DA INCONFIDÊNCIA BAIANA
Durante a fase de repressão, centenas de pessoas foram denunciadas -
militares, clérigos, funcionários públicos e pessoas de todas as classes
sociais. Destas, quarenta e nove foram
detidas, a maioria tendo procurado abjurar a sua participação, buscando
demonstrar inocência.
Após a continuidade da investigação e prisão dos envolvidos, a Ordem dos
Carmelitas Descalços foi convocada pelas autoridades a tomarem confissão e
acompanharem os condenados. Entre os relatos destaca-se o do Frei José do Monte
Carmelo.
O religioso afirma que Manuel Faustino, tentou se suicidar várias vezes
por “influência nefasta do demônio”. Os outros presos afirmaram ao frei que
também tiveram estes pensamentos. Nos relatos dele, ele afirma que os
indivíduos mostraram arrependimento e se aproximaram da religião. Outros dois
condenados, João de Deus e Luiz Gonzaga, tentaram fingir uma condição de
loucura, “perdendo o juízo” diversas vezes.
Finalmente, no dia 8 de novembro de 1799, procedeu-se à execução dos
condenados à pena capital, por enforcamento, na seguinte ordem: soldado Lucas
Dantas do Amorim Torres, aprendiz de alfaiate Manuel Faustino dos Santos Lira,
soldado Luís Gonzaga das Virgens e mestre alfaiate
João de Deus Nascimento. De acordo com o
frei, tropas militares ocupavam a Praça da Liberdade e havia ampla presença do
povo, que se reuniu para assistir. Havia banda de cornetas e tambores. A
cerimônia começou por volta das onze horas, com os presos caminhando com as
mãos algemadas nas costas. O quinto condenado à pena capital, o ourives
Luís Pires, fugitivo, jamais foi localizado.
Pela sentença, todos tiveram os
seus nomes e memórias "malditos" até à 3a. geração. Os despojos dos
executados foram expostos da seguinte forma: a cabeça de Lucas Dantas ficou
espetada no Campo do Dique do Desterro; a de Manuel Faustino, no Cruzeiro de
São Francisco; a de João de Deus, na Rua Direita do Palácio (atual Rua Chile);
e a cabeça e as mãos de Luís Gonzaga ficaram pregadas na forca, levantada na Praça da Piedade, então a principal da
cidade.
Depois do cumprimento das penas de morte, devido ao calor intenso de
Salvador, os pedaços dos corpos começaram a entrar em decomposição. Segundo o
frei, a cidade foi tomada por urubus. No dia 11 de novembro de 1799, o relato é
de que o “ar da cidade era irrespirável; a podridão invadira todas as casas e a
população temia por sua saúde”. Esses despojos ficaram à vista, para exemplo da
população, por cinco dias, tendo sido recolhidos no dia 13 pela Santa Casa de
Misericórdia (instituição responsável pelos cemitérios à época do Brasil
Colônia), que os fez sepultar em local desconhecido.
Os demais envolvidos foram condenados à pena de degredo, agravada com a
determinação de ser sofrido na costa Ocidental da África, fora dos domínios de
Portugal, o que equivalia à morte
3. A
FAMÍLIA REAL NO BRASIL
A
transferência da corte portuguesa para o Brasil tem relação direta com os
acontecimentos da Revolução Francesa
e do período napoleônico. Desde
o início da revolução, a existência dos regimes absolutistas na Europa foi
severamente ameaçada. Após 10 anos do levante, Napoleão Bonaparte surgiu como
governante da França.
Os acontecimentos da revolução
reforçaram severamente a rivalidade entre França e Inglaterra na Europa, e isso
se refletiu diretamente na relação de Portugal com esses dois países.
Internamente, uma divisão muito grande
instalou-se em Portugal, uns defendendo que o país se aproximasse da
França, e outros defendendo a boa relação, estabelecida havia séculos, com o
Reino Unido.
Portugal, ainda no período
revolucionário, assinou um acordo de
proteção militar com os ingleses, mas, ainda assim, buscava manter
publicamente uma posição neutra, de forma a não desagradar
nenhuma das nações. Na medida em que a tensão crescia, o que d. João fez como
medida cautelar foi reforçar as defesas do país na fronteira com a Espanha,
entre 1804 e 1807, segundo pontuam as historiadoras Lilia Schwarcz e Heloísa
Starling.
A ascensão de Napoleão Bonaparte
só contribuiu para que a situação se agravasse, pois o ímpeto expansionista e o
desejo de reformular o mapa europeu do general reforçaram a polarização do
continente. O regente, d. João (que só se tornou d. João VI em 1816), como
mencionado, era constantemente pressionado, pelos apoiadores de franceses e
ingleses, a tomar partido.
A partir de 1804, Napoleão
“autocoroou-se” imperador francês, o que reforçou seu poder e ampliou a tensão
na Europa. Antes disso, a situação já era apreensiva para Portugal, uma vez que
os espanhóis haviam se aliado com os franceses, o que representava uma grande
ameaça à soberania do território português.
Incapaz de invadir a Inglaterra,
Napoleão resolveu, a partir de 1806, estabelecer o BLOQUEIO CONTINENTAL, o que determinou
que os portos das nações europeias ficariam terminantemente fechados para
embarcações inglesas.
Com o bloqueio, os portugueses
começaram a ventilar a proposta de mudarem-se para o Brasil a fim de fugir do
alcance de Napoleão. Portugal não aceitou aderir ao bloqueio porque as relações
com os ingleses eram boas e estavam de pé por séculos. A situação estendeu-se
até meados de 1807, quando Napoleão realizou um ultimato.
O ultimato de Napoleão determinou que Portugal deveria, até 1º de
setembro, realizar as seguintes medidas: convocar seu embaixador que estava em
Londres; expulsar o embaixador inglês de Lisboa; fechar os portos para navios
ingleses; prender os ingleses em Portugal e confiscar os bens deles; e declarar
guerra à Inglaterra.
Seguiram-se semanas de negociação
entre Portugal e França e Portugal e Reino Unido, mas não se chegou a nenhum entendimento. Os britânicos orientaram que,
se os portugueses aceitassem integralmente os termos franceses, os dois países
entrariam em guerra; já os franceses exigiam o aceite integral dos seus termos,
caso contrário, invadiriam o território português, dividindo-o com a Espanha.
Como não houve solução, Napoleão
ordenou o envio de tropas para invadir Portugal. Em 24 de novembro, d. João
informou que as tropas francesas chegariam a Lisboa em até quatro dias e
autorizou o início dos preparativos de uma viagem ao Brasil. A corte portuguesa
tinha o compromisso dos ingleses de ser escoltada em segurança até o Brasil.
3.1. TRAVESSIA E CHEGADA DA FAMÍLIA REAL
O embarque da corte portuguesa
aconteceu entre os dias 25 e 27 de
novembro de 1807. Em meio aos preparativos, o governo português realizou
a transferência das instituições que administravam o país, portanto, tratava-se
de uma missão muito grande para tão poucos dias. Nessa transferência, todas as
pessoas que possuíssem algum papel no governo mudaram-se para o Rio de Janeiro com suas famílias.
As naus portuguesas que fizeram a
transferência da corte reuniram de
10
mil a 15 mil pessoas, segundo os levantamentos feitos por diferentes
historiadores. Lilia Schwarcz e Heloísa Starling dão a real dimensão do que foi
essa vinda para o Brasil: “não eram indivíduos isolados que fugiam às pressas,
e sim a sede do Estado português que mudava de endereço, com seu aparelho
administrativo e burocrático, seu tesouro, suas repartições, secretarias,
tribunais, arquivos e funcionários”.
O regente de Portugal autorizou todos os seus súditos a mudarem-se para
o Brasil, caso desejassem, mas se não houvesse espaço nas embarcações da corte,
eles deveriam procurar meios próprios de vir para o Brasil. Todos os
preparativos da mudança foram realizados às pressas, e, por isso, houve correria e pânico. Muita coisa que deveria ter embarcado foi deixada para
trás, e os navios, abarrotados de gente, não tinham suprimentos suficientes
para todos.
As embarcações portuguesas iniciaram a viagem para o Brasil no dia 29 de
novembro de 1807, e, em alto-mar, encontraram-se com as quatro embarcações
inglesas, que as escoltaram até o Brasil. Acredita-se que as embarcações que
vieram ao nosso país trazendo a corte eram cerca de 15 (há desencontro nas
informações). No fim do dia 29, as tropas francesas entravam em Lisboa e eram
formadas por cerca de seis mil soldados.
Os problemas na viagem foram muitos. A citada superlotação fez com que alimentos e água fossem racionados; não havia dormitórios e
camas para todos, e os problemas de higiene era muitos. Estes resultaram em um surto de piolhos que forçou as
mulheres rasparem seus cabelos
3.1.1. A INTERIORIZAÇÃO DA METRÓPOLE (Maria
Odila Dias)
Durante
sua permanência, D. João e sua corte estabeleceram uma aliança com a elite de
São Paulo e do Rio de Janeiro, isso se deu por meio de negócios, casamentos e a
concessão de empregos. Essas relações sociais e mercantis com a elite do
Centro-Sul levaram ao enraizamento da Corte portuguesa e à sua intenção de
permanecer no Brasil.
3.2. ABERTURA DOS PORTOS BRASILEIROS
No
contexto da vinda da família real para sua colônia americana, A Inglaterra não
somente financiou o translado da família portuguesa, como também fez a escolta
ultramarina de Portugal até a costa brasileira. É claro que essa proteção não
foi feita de graça. Os ingleses exigiram de Dom João VI que os portos
brasileiros fossem abertos para a entrada de produtos ingleses. Dessa forma, o
Pacto Colonial que existia desde 1500 perdeu seu valor. Os produtos vindos da Inglaterra começaram a
circular dentro do mercado brasileiro.
A entrada de produtos ingleses no
mercado brasileiro promoveu o fim do
monopólio português sobre a economia colonial. De 1500 até 1808, o
Brasil deveria comercializar apenas com Portugal. A abertura dos portos promoveu,
a priori, o rompimento dessa dependência brasileira em relação à metrópole
portuguesa. Porém, isso não significou
liberdade econômica para o Brasil, mas sim uma nova dependência, mas
dessa vez para a Inglaterra.
No âmbito político, a abertura
dos portos promoveu a aproximação do
Brasil com outras nações europeias, e não apenas com Portugal. Essa
diversidade de negociações de produtos europeus favoreceu o enfraquecimento do
domínio português em território brasileiro, bem como o avanço das ideias relacionadas com a liberdade política do Brasil.
A vinda da família real para o Brasil trouxe inúmeras transformações, não se
restringindo apenas à abertura dos portos, mas envolveu também, entre outras
medidas, o surgimento da imprensa, o que possibilitou maior circulação de
ideias e debates sobre os rumos da colônia em direção à sua independência.
3. ADMINISTRAÇÃO JOANINA
O Período Joanino foi a
época da história do Brasil colonial iniciada com a vinda de D. João VI e a
corte portuguesa em 1808. Nesse período, o Brasil sofreu uma série de
alterações para dar suporte ao abrigo da corte, que permaneceu na colônia até
1821, quando D. João VI, por pressão das cortes portuguesas, retornou para
Portugal. Os historiadores afirmam que essa transferência da corte para o Rio
de Janeiro contribuiu para adiantar a independência do Brasil.
Uma
vez instalado, o governo de D. João empenhou-se em modernizar a cidade do Rio
de Janeiro, assemelhando-a a Lisboa, assim multiplicaram-se as obras, como a
abertura de várias vias a fim de facilitar a circulação de pessoas e
mercadorias, construiu-se novas habitações com amplos jardins e janelas
envidraçadas, instalou-se importantes órgãos politico-administrativos
(Ministério e Conselho de Estado, Banco do Brasil, etc.). Além disso, se criou
importantes instituições científico culturais, como a Imprensa Régia, o Jornal
Gazeta do Rio de Janeiro (primeiro no Brasil), a Academia Médico-Cirúrgica, a
Biblioteca Real, o Museu Nacional, dentre outras coisas.
OBS: A primeira grande medida tomada por D.
João VI, assim que chegou ao Brasil, foi promover a abertura dos portos
brasileiros para as “nações amigas”, favorecendo principalmente a
Inglaterra. Com essa medida, Portugal colocava fim ao exclusivo colonial e dava
permissão aos comerciantes e grandes proprietários brasileiros para
comercializar seus produtos diretamente com os ingleses. D. João VI também revogou o
decreto que proibia a instalação de manufaturas no país e incentivou a
importação de matérias-primas utilizadas nessa produção.
OBS: Um fator que deve ser levado em
consideração está no fato de que D. João trouxe recursos de Portugal na ocasião
da vinda da família real, todavia tais recursos foram insuficientes para o
conjunto de reformas e transformações, resultando em um aumento imenso dos
impostos e tributos cobrados, que por sua vez resultaram em grande insatisfação
popular.
3.1. TRATADOS DE ALIANÇA E AMIZADE E DE
COMÉRCIO E NAVEGAÇÃO
A fim de estreitar os
laços comerciais e políticos com os ingleses, Dom João assina, em 1810, o
Tratado de Aliança e Amizade, de Comércio e Navegação com o Reino Unido.
Estes Tratados
estabeleciam:
·
vantagens comerciais. O imposto de importação de
produtos ingleses seria de 15%, ou seja, os produtos portugueses, 16%, e os
demais países, 24%.
·
O compromisso do fim do tráfico negreiro em vistas
da abolição da escravidão;
·
o direito da extraterritorialidade. Isto permitia
aos súditos ingleses que cometesse crimes em domínios portugueses serem
processados por magistrados ingleses, segundo a lei inglesa;
·
a permissão para construir cemitérios e templos
protestantes;
·
a segurança de que a Inquisição não seria
implantada no Brasil e, desta maneira, os protestantes não seriam incomodados.
3.2. O REINO UNIDO DE BRASIL, PORTUGAL E
ALGARVE
A
transferência da Corte para o Rio de Janeiro criou uma fratura no império
Português, a metrópole, privada de seu soberano e dominada por uma
administração inglesa, acabou perdendo suas funções; a colônia, agora exercia a
função de metrópole, o que se denomina de inversão
metropolitana. Essa situação acirrou os conflitos de interesses entre os
grupos que disputavam o poder no império.
Além
do que foi apresentado acima, entre os anos de 1814 e 1815, realizou o O Congresso
de Viena foi uma conferência entre embaixadores das grandes potências
europeias que aconteceu na capital austríaca, cuja intenção era a de redesenhar
o mapa político do continente europeu após a derrota da França napoleônica na
primavera anterior, esse congresso teve como diretrizes fundamentais: o princípio
da legitimidade, a restauração, o equilíbrio de poder.
Nesse
contexto, Dom João elevou o Brasil à categoria de Reino Unido à Portugal e
Algarve, em 1815, justificando assim, sua permanência no Rio de Janeiro, onde
seu governo já tinha fincado raízes e obtido vantagens para si e seus
protegidos.
3.3. A INSURREIÇÃO
PERNAMBUCANA
Foi o único movimento
por liberdade do período de dominação portuguesa que ultrapassou a fase
conspiratória e atingiu o processo de tomada do poder, a Revolução Pernambucana
provocou o adiamento da aclamação de João VI de Portugal como Rei e o atraso da
viagem de Maria Leopoldina de Áustria para o Rio de Janeiro, mobilizando forças
políticas e suscitando posicionamentos e repressões em todo o Reino do Brasil. Foi
durante a insurreição de 1817 que a República foi proclamada pela primeira vez
em terras brasileiras.
OBS: Diferentemente da Inconfidência Mineira,
cujo mártir Tiradentes era trabalhador braçal, e da Conjuração Baiana, que
resultou na execução de quatro jovens negros e pardos, no movimento
pernambucano os homens condenados à morte eram em sua maioria brancos e de
classes sociais mais abonadas.
OBS: A Revolução Pernambucana contou com
relativo apoio internacional.
ANTECEDENTES
No começo do século XIX, Pernambuco era a capitania mais rica do Brasil.
Recife e Olinda, as duas maiores cidades pernambucanas, tinham juntas cerca de
40 mil habitantes (o Rio de Janeiro, capital da colônia, possuía 60 mil
habitantes). O porto do Recife escoava grande parte da produção de açúcar e de
algodão. Além de sua importância econômica e política, os pernambucanos tinham
participado de diversas lutas libertárias. A primeira e mais importante tinha
sido a Insurreição Pernambucana, em 1645. Depois, na Guerra dos Mascates, foi
aventada a possibilidade de proclamar a independência de Olinda.
As ideias liberais que entravam em terras brasileiras junto com os
viajantes estrangeiros e por meio de livros e de outras publicações,
incentivavam o sentimento de revolta entre a elite pernambucana, que
participava ativamente, desde o fim do século XVIII, de sociedades secretas,
como a Sociedade Secreta Areópago de Itambé, primeira loja maçônica do
Brasil, que difundiu ideias libertárias, contra a repressão colonial, além de
outras, que serviam como locais de discussão e difusão das "infames
ideias francesas".
A fundação do Seminário de Olinda, filiado a ideias iluministas, deve
ser levada em consideração também. Não é por outro motivo que o levante ficaria
conhecido como "revolução dos padres", dada a participação do clero
católico. Frei Caneca tornar-se-ia um símbolo disso.
CAUSAS IMEDIATAS
·
Presença maciça de portugueses na liderança do
governo e na administração pública;
·
Criação de novos impostos por Dom João VI
provocando a insatisfação da população pernambucana. Segundo escritor inglês
então residente no Recife, era grande a insatisfação local ante a
obrigatoriedade de se pagarem impostos para a manutenção da iluminação pública
do Rio de Janeiro, enquanto no Recife era praticamente inexistente a dita
iluminação;
·
Grande seca que havia atingido a região em 1816
acentuando a fome e a miséria e ocasionando uma queda na produção do açúcar e
do algodão, produtos que eram a base da economia de Pernambuco e que começaram
a sofrer concorrência do algodão nos Estados Unidos e do açúcar na Jamaica;
·
Influências externas com a divulgação das ideias
liberais e iluministas, que estimularam as camadas populares de Pernambuco na
organização do movimento de 1817;
O PROCESSO REVOLUCIONÁRIO
A revolução iniciou-se
com a ocupação do Recife, em 6 de março de 1817. No regimento de artilharia, o
capitão José de Barros Lima, conhecido como "Leão Coroado", reagiu à
voz de prisão e matou a golpes de espada o comandante Barbosa de Castro.
Depois, na companhia de outros militares rebelados, tomou o quartel e ergueu
trincheiras nas ruas vizinhas para impedir o avanço das tropas monarquistas,
após conflitos entre os realistas e os rebeldes, estes conseguiram assumir o
controle do Governo da província, assumindo o controle do tesouro, instalaram
um governo provisório e proclamaram a república.
Em 29 de março foi convocada uma assembleia constituinte, com
representantes eleitos em todas as comarcas. Nela, foi estabelecida a separação
entre os poderes Legislativo, Executivo e Judiciário; o catolicismo foi mantido
como religião oficial — porém com liberdade de culto —; foi proclamada a
liberdade de imprensa (uma grande novidade no Brasil); e foram abolidos alguns
impostos. A escravidão, entretanto, foi mantida.
À medida que o calor das discussões e a revolta contra a opressão
portuguesa aumentavam, crescia, também, o sentimento de patriotismo dos
pernambucanos.
Emissários da revolução
estiveram no Rio de Janeiro e depois na Bahia, mas as tentativas de obter apoio
fracassaram. Em 16 de março, ocorreu a adesão da Paraíba. No Rio
Grande do Norte, o movimento conseguiu a adesão do proprietário de
um grande engenho de açúcar, André de Albuquerque Maranhão, que depois de
prender o governador, José Inácio Borges, ocupou Natal e formou uma junta
governativa, porém não despertou o interesse da população e foi tirado do poder
em poucos dias.
No Ceará, Bárbara de Alencar,
pernambucana radicada no Cariri, e seu filho, Tristão Gonçalves, aderiram ao
movimento, mas foram detidos pelo Capitão-mor do Crato, José Pereira
Filgueiras, por ordem do governador cearense Manuel Inácio de Sampaio e Pina
Freire. José Pereira Filgueiras participou mais tarde da luta pela
Independência do Brasil no Maranhão e da Confederação do Equador, quando se
uniu a Tristão Gonçalves contra o governo imperial, sendo considerado um de
seus heróis.
A república liderada por Pernambuco,
no entanto, não durou muito, apenas 74 dias. As tropas e os recursos
mobilizados por D. João VI, conseguiram sufoca-la rapidamente. Vários rebeldes
receberam a pena de morte e foram enforcados. Comerciantes portugueses e alguns
proprietários de terra também ajudaram a reprimir o movimento, uma vez que
temiam o haitianismo. A repressão
acabou visando o restabelecimento da ordem étnica e social em Pernambuco, fato
esse que ajuda a explicar a extrema violência da repressão.
OBS: Pernambuco, em retaliação, com sanção de João VI de Portugal, foi
desmembrada, perdendo a comarca das Alagoas, cujos proprietários rurais haviam
se mantido fiéis à Coroa, e como recompensa, puderam formar uma capitania
autônoma.
3.4. A REVOLUÇÃO DO
PORTO
Enquanto, no Brasil, D. João VI e
seus aliados desfrutavam do poder, assim como dos privilégios, a situação em
Portugal era um misto de crise econômica e caos político, tal situação era consequência
da:
- Ocupação francesa;
- Transferência da Corte
para o Brasil;
- Perda dos lucros
em decorrência da abertura dos portos brasileiros;
- Presença militar
inglesa em Portugal.
Os liberais portugueses acusavam o governo
absolutista de D. João VI pelo descontentamento e pela situação de caos que
assolava Portugal. Em meio a esse contexto, deflagrou-se a Revolução Liberal do Porto (1820), um movimento armado inspirado no
iluminismo, contanto com amplo apoio popular, pregava o fim do Antigo Regime em
Portugal. Iniciou-se na cidade do Porto, todavia se espalhou pelo restante do
pais.
Vitoriosos, os revolucionários organizaram
e convocaram eleições para compor uma assembleia de deputados, denominada de Cortes Constitucionais, que logo
começaram a trabalhar em uma Constituição, visando limitar o poder de D. João VI.
Assim que a notícia chegou ao Brasil
ocorreram manifestações em algumas cidades, exigindo a adesão de D. João à
Revolução e à Constituição. Nisso surgiram dois grupos, um sob a
liderança de Nogueira da Gama, que queria o retorno de D.João VI a Portugal e a
separação do Brasil, criando-se uma monarquia constitucional sob a liderança de
D. Pedro, outro grupo, liderado
por Joaquim Gonçalves Ledo e José Clemente Pereira, defendia uma maior
autonomia do Brasil em relação a Portugal, sem que fosse preciso separar-se.
Diante dessa situação, D. João VI
parte com sua família de volta para Portugal, deixando, todavia, seu filho e
herdeiro D. Pedro na condição de príncipe regente.
OBS: A lógica de D.
João ao deixar seu filho era simples, garantiria a manutenção do território
brasileiro, buscando assim evitar sua fragmentação, a exemplo do que ocorreu
nas colônias espanholas, através da figura centralizadora de um monarca, assim
como possibilitaria a manutenção do poder de sua família.
3.5. A REGÊNCIA DE
D. PEDRO
Dom Pedro assumiu
dentro de um contexto bem particular, em meio à crise econômica e financeira,
assim como a recusa de algumas partes do território em aceitar sua autoridade. Essa
situação gerou uma profunda crise, como o aumento do custo de vida, à diminuição
de moedas em circulação e o atraso nos pagamentos de soldados e funcionários públicos.
No Rio de Janeiro, a situação ficou insustentável, uma vez que as condições
financeiras eram ainda mais graves, sem as remessas de impostos por partes das
demais províncias.
Nesse contexto, deputados
brasileiros foram à Lisboa na intenção de participar da elaboração da Constituição,
todavia o conflito de interesses entre a elite brasileira e portuguesa se acirrou,
culminando com a promulgação de decretos pela Cortes contendo as decisões pelos
deputados reunidos em Lisboa, tais como:
- Todas as províncias
deveriam ser governadas por Juntas de governo eleitas localmente;
- Todas as forças
militares deveriam ficar sob as ordens de um comandante nomeado pela Junta;
- Tanto a Junta
quanto o comandante deveriam prestar juramento à Corte;
- A regência foi
dada como extinta e o retorno de D. Pedro deveria ser imediato.
Em meio a essa situação, que batia
de frente com os interesses de D. Pedro e das elites favoráveis a separação do
Brasil de Portugal, que se iniciou uma grande campanha visando à permanência de
Dom Pedro e o rompimento com Portugal. Dessa forma, em 9 de janeiro de 1822,
depois de receber um manifesto, D. Pedro anunciou sua decisão de permanecer no
Brasil, no que ficou conhecido como Dia
do Fico.
Após esse acontecimento, D. Pedro
recebeu o título de Defensor Perpétuo do Brasil, havendo um consenso entre as
elites Mineiras, fluminenses e paulistas quanto a independência com D. Pedro no
governo, todavia mantinham algumas divergências:
·
NOGUEIRA DA GAMA e JOSÉ BONIFÁCIO
Queriam maior
centralização das decisões nas mãos do príncipe, assim como de seu ministério
no Rio de Janeiro. Buscavam também maior subordinação das províncias ao poder
central, além de defenderem ampliação do comércio com as demais regiões.
·
GONÇALVES LEDO
Queira maior poder
do Legislativo, ou seja, maior limitação do poder do príncipe regente, assim
como eleições diretas para deputado e o estreitamento de relações políticas e
mercantis com Portugal.
3.6. A RUPTURA COM PORTUGAL
Em viajem a São Paulo, buscando
pacificar disputas políticas locais, assim como fortalecer a posição de José
Bonifácio, voltava da cidade de Santos quando recebeu as cartas das Cortes,
acompanhadas de outras, escritas pela sua esposa, assim como pelo seu ministro
José Bonifácio. Nas cartas vindas de Portugal, os deputados ameaçaram iniciar
uma guerra, enviando tropas ao Rio de Janeiro, caso o príncipe não voltasse a
Lisboa. Em meio a tal situação D. Pedro rompe com Portugal em 7 de setembro de
1822, no que ficou conhecido como Grito
do Ipiranga.
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