Um dos maiores questionamentos
que fazemos quando estudamos um povo, uma sociedade, uma cultura antiga é
justamente a importância e a influência desses povos para a gente. No caso do
período histórico conhecido como Idade Média devemos ter em mente que muitos
aspectos sociais, políticos, econômicos e sobretudo culturais da sociedade
ocidental vão ter ou sua origem ou seu desenvolvimento nesse período. Podemos
tomar como exemplo o surgimento da burguesia, grupo fomentador de grandes mudanças
que influenciaram toda nossa sociedade, o surgimento de práticas religiosas
(seminários, ordens religiosas, etc.), o embrião do capitalismo, dentre tantos
outros.
IDADE MÉDIA OU IDADE DAS
TREVAS?
Ainda hoje persiste em
continuar um grande preconceito quanto o assunto é Idade Média, o maior exemplo
desse preconceito é o termo “idade das trevas” com o qual o período é
associado, todavia esse termo diminui e muito a complexidade que foi a Idade
Média, é verdade que esse período contou com a ditadura da igreja católica, que
buscou de inúmeras formas ou barrar o processo de desenvolvimento da sociedade
ou simplesmente impedir tal processo, caçando, prendendo e matando aqueles que agiam,
pensavam e/ou falavam algo que ia contra os preceitos religiosos, todavia achar
que a sociedade seguiu à risca tudo que lhe era impostos, sem ao menos buscar
formas de reagir, é ser cego quanto a capacidade humana de agir!
Um grande exemplo disso
foi o desenvolvimento intelectual, que, sob o controle da Igreja Católica ou
não, existiu! O conjunto de transformações tecnológicas, como o desenvolvimento
do moinho hidráulico, etc.
ENTÃO O QUE FOI A IDADE MÉDIA?
Responder essa pergunta
exige um pequeno cuidado! O motivo consiste justamente na forma como esse
período vem dividido nos livros didáticos. Como assim? Nos livros a Idade Média
é dividida em dois períodos: Alta Idade Média (séc. V ao X) e Baixa Idade Média
(séc. XI ao XV), no entanto muitos historiados preferem dividir a Idade Média
em três fases: Alta Idade Média (séc. VIII ao X), Idade Média Central (séc. XI
ao XIII) e Baixa Idade Média (séc. XIV a meados do século XVI)
Qual a diferença?
Na primeira forma de
divisão a Alta Idade Média vai compreender os processos de formação da Idade
Média e do império merovíngio e carolíngio, sendo que na Baixa Idade Média
ocorrerá todo o resto, sendo aí muita coisa!
Para facilitar e melhorar
o processo de compreensão é que muitos dos historiadores preferem dividir em
três: A Alta Idade Média sendo correspondente ao processo de formação dos
impérios merovíngio e carolíngio, a Idade Média Central correspondendo em
grosso modo ao feudalismo e a Baixa Idade Média com os acontecimentos e
aspectos que findaram com a Idade Média.
Outra coisa que é bem
importante falar está justamente no processo de formação da Idade Média, que
ocorrerá entre os séculos IV e VIII, nos livros didáticos esse período já está
inserido na Alta Idade Média.
Mais qual o problema
disso?
A Idade Média vai ser
formada a partir da mistura de aspectos Romanos e Germânicos, o período em que
vai haver essa mistura é conhecido como primeira
Idade Média, onde esse período vai manter características da Idade Clássica
(Grecoromana) e já apresentar algumas características da Idade Média, dito com
outras palavras, a primeira Idade Média não vai pertencer a Idade Clássica e
nem a Idade Média. Por isso que a maioria dos historiadores não considera a
primeira Idade Média como já sendo da Idade Média!
O PROCESSO DE FORMAÇÃO DA IDADE MÉDIA
Como já dito anteriormente, a Idade Média
é fruto da mistura de aspectos romanos e germânicos, assim é fundamental
entender o porquê dessa mistura, como isso ocorreu.
O contato inicial entre romanos e
bárbaros, sobretudo os germânicos, ocorreu de forma relativamente
pacífica, sendo que com o passar do tempo os guerreiros germânicos começaram a ocupar postos de destaque na sociedade romana.
pacífica, sendo que com o passar do tempo os guerreiros germânicos começaram a ocupar postos de destaque na sociedade romana.
Com o passar do tempo aumentou a
quantidade de povos bárbaros entrando no território romano, com isso o governo
tentou barrar a entrada desses povos, o que fez com que o processo de migração
viesse adquirir um caráter ainda mais ameaçador.
CURIOSIDADE: O TERMO BÁRBARO FAZ REFERÊNCIA A TODOS OS POVOS QUE NÃO ERAM NEM GREGOS E NEM ROMANOS
Mais porquê aumentou o processo de invasão
dos povos Bárbaros no território romano?
Para os especialistas há duas causar
prováveis:
1ª Causa: houve um grande aumento no
número de pessoas que formavam os povos Bárbaros, assim não havia em suas
terras originais comida o suficiente para todos, isso fez com que muitos
buscassem outras terras para assim tentar sobreviver, o que com certeza os
faria entrar nas terras romanas, já que o império romano se estendia da atual
Espanha até Israel, tendo dominado inclusive o norte da África, em resumo, era
muita terra!
2ª Causa: Os povos bárbaros estavam
fugindo de outro povo, os hunos, que buscavam aumentar ainda mais seu
território, sendo a forma encontrada pelos povos bárbaros entrar no Império
Romano.
Mais qual o impacto desse processo de
migração dos povos Bárbaros?
A entrada desses povos provocou pânico e
mudanças no cotidiano da sociedade, as estruturas do império entraram em
colapso, sendo assim o tiro de misericórdia que faltava para derrubar de vez o
Império Romano.
A crise fez com que uma grande quantidade
de pessoas fugisse da cidade para o campo, em um processo que é conhecido como ruralização. Esse processo foi
fundamental para o surgimento do feudalismo!
Sem falar também que o processo de invasão
dos povos bárbaros não foi algo rápido, levou tempo, isso fez com que aos
poucos alguns aspectos culturais e estruturais de ambos, romanos e germânicos,
fossem se misturando.
Com as invasões bárbaras e a queda do
império romano houve um processo de desfragmentação política. Como assim? Se
antes existia um grande império centralizado no poder de uma só pessoa, o
imperador, agora cada povo bárbaro formou um pequeno reino, existindo assim
vários deles.
Um deles, os francos, vão ter uma grande importância
para a formação das características que formaram a Idade Média. Seu principal
líder, o rei da dinastia merovíngia, Clóvis, com o apoio da Igreja Católica, se
tornou rei e começou um processo de dominação dos outros reinos, fazendo com que se iniciasse um processo de unificação, todavia é valido lembrar que que essa expansão não ocorria apenas com uso da força, as vezes utilizavam outra táticas como casamento. Depois de um tempo os descendentes de Clóvis, acabaram se dedicando mais a festas, jogos, e deixando a administração nas mãos de outros, como era o caso do Prefeito do Palácio ou Mordomo do Paço, por isso tais reis ficaram conhecidos como reis Indolentes.
Um desses prefeitos do palácio, Carlos Martel, junto com seus soldados, conseguiram impedir o avanço dos árabes muçulmanos na Europa Ocidental, vencendo-os na batalha de Poitiers. Com o passar
do tempo os merovíngios foram destronados e em seu lugar assumiu outra família,
os carolíngios, que tinham esse nome por causa do rei Carlos Magno. Interessado no poder militar dos francos, o papa
Zacharias reconhece a nova dinastia, sendo agraciados pelos Francos com apoio militar para enfrentar seus inimigos, assim como também recebendo em doação as terras que originaram o Patrimônio de São Pedro ou Estados da Igreja.
Zacharias reconhece a nova dinastia, sendo agraciados pelos Francos com apoio militar para enfrentar seus inimigos, assim como também recebendo em doação as terras que originaram o Patrimônio de São Pedro ou Estados da Igreja.
OBS:
Durante a expansão militar dos Francos, seu rei, Carlos Magno adotou o costume germânico de doar terras e privilégios aos nobres que lutavam ao seu lado, iniciando uma relação de dependência e fidelidade.
OBS: Para facilitar a administração, Carlos Magno dividiu suas terras em províncias e entregou sua administração a nobres de confiança. Eram os ducados (governado pelos duques, eram os mais próximos do rei e recebiam as maiores porções de terra), tinham as Marcas (governado pelos marqueses, eram as terras situadas nas fronteiras do império ou áreas de conflito) e por fim os Condados (governado pelos condados, administravam os territórios menores). Para ter controle sobre os administradores, Carlos Magno ampliou o poder dos Missi Dominici (Enviados do Senhor), funcionários reais que iam periodicamente fiscalizá-los e informar a situação ao rei.
Carlos Magno foi sucedido por seu filho, Luis O Piedoso, que acabou se dedicando mais a vida religiosa que a política, tendo dificuldade para manter a unidade do império. Após sua morte, seus três filhos passaram a disputar o trono pelas armas. Depois de algum tempo de luta eles assinaram o Tratado de Verdum, dividindo o império em três partes.
Para o azar de todo mundo, nesse mesmo
período houve um novo surto de invasões, sobretudo de um povo conhecido como
Vikings, essa instabilidade toda vez com que os nobres começassem a dividir as
terras entre si, uma vez que os reis descendentes de Carlos Magno estavam
bastante fracos com a luta entre si, isso fez surgir uma grande quantidade de
territórios, onde cada um era governado por um homem que não só agia como dono,
mais que se tornou dono. Surgia aí o que mais tarde ficou conhecido como feudos.
O RENASCIMENTO CAROLÍNGIO
No seu império, Carlos Magno vai iniciar um processo de valorização da educação e do conhecimento, criando várias escolas (Escolas Palatina), onde se preparava os filhos da nobreza para assumir a administração do reino. Esse clima favorável à cultura facilitou também a atuação dos monges copistas, que copiavam manuscritos greco-romanos que eram lidos em voz alta por seus colegas.
OS INGREDIENTES PARA A IDADE MÉDIA
Se falou muito até aqui que a Idade Média
é fruto da mistura de características romanas e germânicas, mais que
características foram essas?
O feudalismo, que era o sistema que
vigorava na Idade Média, foi fruto da combinação de instituições como o colonato e o comitatus.
O colonato
era de origem romana, se baseou na fixação de trabalhadores livres em grandes
propriedades, na condição de colonos, daí o nome.
O comitatus
era uma instituição de tradição germânica que ligava os chefes militares aos
seus guerreiros por meio de obrigações mútuas de serviços e lealdade. O
comitatus está ligado a outra tradição germânica, o beneficium, que consistia basicamente da concessão do direito de
usar a terra em troca de serviços. Essas duas instituições juntas deram mais
tarde origem a relação de suserania e vassalagem, fundamental para o
feudalismo.
OBS: Antes de mais nada é válido lembrar que o sistema feudal ia além da dominação de terras, estando ligado ao direito e a privilégios, assim uma pessoa poderia ter um direito, como cobrar pedágio em uma ponte, e não ter terras (feudo). Todavia todos que recebiam terras acabavam obtendo os direitos sobre a mesma. Por isso pode-se dizer que existia feudalismo sem feudo, mas nunca feudo sem feudalismo.
O feudo era uma espécie de fazenda,
autônoma, onde o senhor feudal reinava como rei, sendo sua vontade lei. As
terras eram dividas em três:
Manso
Senhorial:
Era cerca de um terço das terras do feudo, era aí que ficava a residência do
senhor e as terras necessárias para sua subsistência.
Manso
Servil:
Era a faixa de terra dividia em lotes para o cultivo dos camponeses.
Manso
Comum: Eram
as terras para cultivo coletivo, ou seja, os produtos nela existentes podiam
ser retirados e consumidos por todos os moradores do feudo.
COMO ERA A SOCIEDADE MEDIEVAL?
A divisão da sociedade possuía uma estrutura
rigidamente hierarquizada, determinada pelo nascimento, dito de outra forma,
você nascia e morria na mesma camada social!
A divisão era de certa forma complexa,
mais para facilitar seu aprendizado podemos utilizar como forma de dividir a
sociedade um poema do bispo Adalbéron de Laon, que dividiu a sociedade entre os
lobos, ovelhas e burros.
As ovelhas era o clero, a Igreja católica,
que exerciam uma papem essencial na Idade Média. Os padres exerciam grande
poder nesse período, eram divididos em dois grupos: clero espiritual e clero
secular. O clero espiritual/regular era composto pelos padres que vivam nos
monastérios, separados do mundo (jesuítas, beneditinos, capucinos, etc.), já o
clero secular era composto pelos padres de igreja, que lidavam diretamente com
a população.
Os burros eram os camponeses, que formavam
a esmagadora maioria da população, trabalhavam para produzir os alimentos para
as famílias e para os senhores, não possuíam quase nenhum direito, vivam em
situação bastante pesada. É bom que não se confunda camponeses com escravos, os
escravos não tinham nenhum direito, podendo inclusive ser vendidos, já dos
camponeses não podiam ser vendidos, estando presos ao feudo, regime conhecido
como servidão da gleba. Os
camponeses eram obrigados a pagar tributos ao senhor feudal, tais como: talha, corveia, banalidades, mão morta,
etc.
Obs:
haviam também nos feudos algumas vilas, algumas com o passar do tempo
conseguiam juntar recurso o suficiente para comprar sua independência (direito de comuna e carta de franquia), se
separando assim do feudo. Essas vilas eram conhecidas como burgos, sendo seus
moradores os burgueses, a base da economia dessas vilas era o comércio.
Embora a vida econômica da Idade Média se
baseasse principalmente na produção agrícola de subsistência, desde os primórdios
do período medieval comerciantes e artesãos asseguraram, ainda que em bases
precárias, a produção e a circulação de bens, ou seja, mesmo a base da economia
sendo a agricultura, havia na Idade Média ainda a existência de comércio. Sobretudo quando houve a possibilidade de produção de excedentes agrícolas, graças ao desenvolvimento de novas tecnologias e/ou práticas, como o uso da charrua e a adoção do sistema trienal.
DESENVOLVIMENTO INTELECTUAL NA IDADE MÉDIA
O crescimento das cidades e das atividades
comerciais exigiu um número maior de pessoas que pudessem atender ás demandas
de uma sociedade que, aos poucos, se tornava complexa. A partir do século XIII,
uma corrente de pensamento que associava a racionalidade a fé começou a se
espalhar, a escolástica. Segundo os
seguidores desse pensamento não haveria contradição entre fé e razão, já que
ambas provinham de Deus.
As cruzadas consistiam em expedições
guerreiras estimuladas pelo papa Urbano II, que tinham como objetivo a
reconquista da terra santa, local
onde Jesus nasceu e viveu. As pessoas que participaram dessa expedição eram
conhecidos como cruzados, que recebiam em troca o perdão de todos os seus
pecados, a chamada indulgência.
OBS: Jerusalém foi dominada pelos turcos muçulmanos, que proibiram as visitas dos cristãos ao túmulo de Jesus, o papa Urbano II reagiu, clamando para que os cristãos se organizassem, assim se formaram exércitos com tal objetivo.
As cruzadas reuniam milhares de pessoas de diferentes origens, condições sociais e idades. Alguns iam a cavalo e bem armados, mas a maioria ia a pé e desarmada. Essas expedições combinaram motivos religiosos, econômicos e militares.
- Os dirigentes da Igreja esperavam pacificar a Europa cristã desviando a violência da nobreza guerreira para fora do continente;
- Os nobres europeus sem terra (pois somente o primeiro filho recebia herança) esperavam obter terras e outras riquezas;
- Os mercadores europeus pretendiam aumentar seu comércio com o Oriente e conseguir privilégios nas cidades conquistas pelos cruzados;
- As pessoas comuns buscavam obter a salvação, dando sentido religioso a sua existência.
OBS: O objetivo principal não foi alcançado, Jerusalém logo voltou para as mãos dos muçulmanos. Todavia, as cruzadas provocaram uma série de importantes mudanças socioeconômicas na Europa:
- A Abertura de novas rotas comerciais, possibilitando aos europeus aumentar sua participação no comércio de especiarias;
- Aumento do comércio entre o Ocidente e o Oriente;
- A violência e a cobiça de parte dos cruzados geraram um clima de intolerância e animosidade entre Ocidente e Oriente que se prolongou por muito tempo;
- Enfraquecimento da nobreza, já que muitos nobres morreram nas cruzadas ou ficaram empobrecidos.
COMO ERA A RELIGIÃO NA IDADE MÉDIA?
Na Idade Média imperava a religião
católica, exercendo grande poder, criando algumas práticas que hoje seriam
amplamente questionadas. Dois grandes exemplos disso foi a venda de indulgências e a simonia.
A primeira consistia na venda de perdão dos pecados e a segunda na venda de
objetos sagrados, que muitas vezes eram falsificados.
Não se permitia que ninguém questionasse ou
fosse contra os ensinamentos da igreja, quem o fizesse era acusado e processado
por heresia, que consiste
basicamente em fazer ou dizer algo que vai contra das doutrinas da igreja, a
punição por tal crime era desde a prisão, até a tortura seguida pela morte,
preferencialmente na fogueira.
CHEGOU A PESTE
No decorrer do século XIV, após um longo
período de relativa prosperidade, a economia da Europa passou por uma violenta
crise. Entre as causas podemos citar a
peste negra. Essa doença foi responsável pela morte de cerca de um terço da
população medieval, sendo espalhada pelas pulgas
dos ratos.
dos ratos.
Enquanto alguns olhavam para a doença com
ódio, como castigo pelos pecados da humanidade, outros começaram a abrir os
olhos e questionar a ordem feudal, contribuindo assim para mudanças que
resultaram no colapso de muitas estruturas do sistema em vigor.
IDADE MÉDIA, A CRISE
As secas, a diminuição da produção agrícola
(graças a peste negra) e a fome agravaram ainda mais a situação de crise que a
sociedade medieval estava mergulhada. No campo vários sobreviventes da peste
começaram a exigir melhores condições de trabalho e de vida, no entanto os
senhores responderam com violência, tendo como consequência várias revoltas,
como os jacqueries, que eram as
revoltas de camponeses.
Todavia a situação dos nobres também
começou a piorar com as crises dinásticas e a necessidade de conseguirem mais
terras, assim aumentou drasticamente as guerras, o maior exemplo disso foi a Guerra dos Cem Anos, que foi um
conflito entre França e Inglaterra.
Os reis aproveitaram essa situação para
reforçar seu poder e restabelecer a ordem, surge assim os Estados Modernos (Portugal, Espanha, etc.).